As tensões e incertezas crescem nas fronteiras orientais da Ucrânia e também na capital, Kiev. Mais de uma dúzia de nações pediram a seus cidadãos que deixem a Ucrânia em meio a advertências de potências ocidentais de que uma invasão pela Rússia pode ser iminente.
Muitos países, incluindo Austrália, Estados Unidos, Itália, Israel, Holanda e Japão, disseram a seus cidadãos para deixar o país. Alguns também evacuaram funcionários diplomáticos e suas famílias.
Moscou acumula mais de 100 mil soldados e equipamentos de guerra pesados ao longo da fronteira com a Ucrânia, embora negue qualquer intenção de invasão.
As tropas russas também estão realizando exercícios militares na Bielorrússia, no norte, enquanto outros exercícios navais no Mar de Azov, no sudeste, levaram a acusações de que o Kremlin estaria bloqueando o acesso da Ucrânia ao mar.
O aumento das tensões levou neste sábado (12/2) a uma nova ligação telefônica entre o líder russo, Vladimir Putin, e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que voltou a alertar Moscou sobre os custos de uma invasão.
Conforme relatado pela Casa Branca, Biden garantiu a Putin que seu país e a comunidade transatlântica imporiam "sanções rápidas e severas" se a Rússia atacar o país vizinho.
"Enquanto os Estados Unidos continuam preparados para se envolver na diplomacia... estamos igualmente preparados para outros cenários", disse um comunicado.
O Kremlin disse que a ligação ocorre em meio a um "pico de histeria" dos Estados Unidos e seus aliados e que Putin afirmou novamente a Biden que as preocupações de segurança da Rússia estão sendo desconsideradas.
O presidente francês Emmanuel Macron também falou com Putin por telefone neste sábado, dizendo que "um diálogo sincero não é compatível com a escalada", segundo nota divulgada pela embaixada francesa.
Por sua vez, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, voltou a pedir calma e considerou que os avisos de invasão poderiam alimentar o pânico, que ele chamou de "o melhor amigo de nossos inimigos".
Uma invasão 'iminente'
A Casa Branca alertou na sexta-feira (11/2) que uma invasão pode acontecer a qualquer momento e pode começar com bombardeios aéreos, sugerindo que os americanos deixem o país dentro de 24 a 48 horas.
Em meio a essa situação, muitos países também fecharam suas embaixadas em Kiev.
Washington ordenou que o pessoal não essencial deixe a representação diplomática na capital e suspenderá os serviços consulares a partir de domingo, embora "uma pequena presença consular" permaneça na cidade ocidental de Lviv "para lidar com emergências".
O Canadá também está transferindo seus funcionários da embaixada para Lviv, perto da fronteira polonesa, informou a imprensa canadense.
A embaixadora do Reino Unido na Ucrânia, Melinda Simmons, informou no Twitter que ela e uma "equipe principal" ficariam em Kiev.
A própria Rússia anunciou que estava retirando seu pessoal diplomático do país, citando "possíveis atos provocativos do regime de Kiev ou de terceiros países".
Os EUA também retiraram da Ucrânia cerca de 150 conselheiros militares que estavam treinando soldados ucranianos, e a companhia aérea holandesa KLM anunciou que deixaria de voar para a Ucrânia, com efeito imediato.
A vida na Ucrânia
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, por sua vez, disse que, se as potências ocidentais tinham alguma evidência firme de uma invasão iminente, ele ainda não tinha visto.
"Acho que há muita informação na imprensa sobre uma guerra profunda e em grande escala", disse ele.
"Entendemos todos os riscos, entendemos que eles existem. Se você ou qualquer outra pessoa tiver informações adicionais 100% confiáveis sobre a invasão da Ucrânia pela Federação Russa... por favor, compartilhe conosco", acrescentou.
Em Kiev, milhares de pessoas marcharam pela cidade no sábado, cantando slogans de lealdade à Ucrânia e resistência a qualquer invasão russa.
A marcha foi organizada por um grupo nacionalista de direita chamado Gonor e o ativista anti-Zelensky de extrema direita Sergiy Sternenko, mas também atraiu outros grupos.
A repórter da BBC Eleanor Montague diz que a manifestação não foi grande, mas foi a primeira demonstração significativa de sentimento público desde que as tensões aumentaram. Os protestos terminaram na Maidan, a praça mais famosa da cidade.
Sasha Nizelska, que trabalha como babá em Kiev, disse à BBC que resistiria a um ataque russo com todos os meios à sua disposição.
O sentimento foi ecoado por pessoas de todas as idades que participaram do comício.
Uma cidade calma
Análise de Paul Adams, correspondente diplomático da BBC
Com embaixadas estrangeiras retirando funcionários e uma série de países agora dizendo a seus cidadãos que deixem a Ucrânia, Kiev ainda não parece uma cidade em crise.
O governo aqui está dizendo às pessoas para permanecerem calmas e unidas e, nas palavras de um comunicado desta manhã, absterem-se de ações que prejudiquem a estabilidade e espalhem pânico.
O presidente Zelensky disse que o país deve estar preparado para qualquer eventualidade.
Em toda a Ucrânia, cidadãos estrangeiros estão agora fazendo planos apressados.
Stuart McKenzie, que vive em Kiev há 28 anos e dirige um negócio de sucesso, espera levar sua esposa e dois filhos em um voo. Mas ele está pronto, se necessário, para colocar a família no carro e dirigir 500 quilômetros até a Polônia.
Ele ama a Ucrânia e não consegue acreditar que as coisas chegaram a esse ponto.
Na embaixada britânica, encontramos funcionários de boca fechada carregando malas em um carro e indo embora. Ninguém parecia disposto a falar.
Não muito longe, ao norte, do outro lado da fronteira com a Bielorrússia, os jogos de guerra da Rússia já estão em andamento.
Imagens do Ministério da Defesa da Rússia, divulgadas esta manhã, mostraram vários lançadores de foguetes sendo disparados.
Moscou ainda diz que não tem planos de invasão. Mas há muito que os russos podem fazer sem nunca pisar na Ucrânia.
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